Há 12 Anos Terminava a Novela AMÉRICA #23



"Vem aí América, a novela dos seus sonhos...". Assim era a chamada no teaser da novela América, de Glória Perez, exibida entre 14 de Março a 05 de Novembro de 2005, com 203 capítulos. Teve direção de Marcelo Travesso, Tereza Lampreia, Federico Bonani, Carlo Milani, Luciano Sabino e direção geral de Marcos Schechtman e Jayme Monjardim.



Por ser a novela que Glória Perez escreveu logo após seu grande sucesso O Clone, criou-se grande expectativa em torno de América, mas a novela que prometia ser um sonho pouco cumpriu.


Sol de Oliveira (Deborah Secco) era a mocinha, que ainda criança, ao ver sua mãe Odaléia (Jandira Martini) receber uma ordem de despejo e quase ter sua casa demolida, cresceu com o desejo de ir para os Estados Unidos, conquistar e dar uma vida mais digna para si e sua família. Foi ainda menina, ao ouvir as histórias de Rita (Arlete Salles), uma vizinha que fez a vida na terra de tio Sam, que Sol passou a acalentar esse sonho. A garotinha, criada só pela mãe de forma humilde, no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, cresceu e viu Mariano (Paulo Goulart), o homem que dirigia o trator que deveria demolir a casa onde ela morava (mas num rompante de sensibilidade não conseguiu fazê-lo), casar-se com Odaléia e tornar-se um carinhoso e preocupado padrasto. Sempre dando duro, trabalhando como massagista domiciliar, Sol não deixa de correr atrás e tenta a todo custo tirar o visto para os EUA, mas entra em desespero ao ter todos os seus pedidos negados. Decidida, ela aceita entrar de forma clandestina no país.

Sol

Mas antes da tão sonhada viagem, ao visitar a madrinha Neuta (Eliane Giardini), no interior de São Paulo, Sol conhece o peão Tião Higino (Murilo Benício) numa festa de rodeio. Desse encontro nasce uma inevitável paixão, mas Sol e Tião não poderiam ser mais diferentes e ao mesmo tempo muito parecidos, ambos tem grandes sonhos, mas o sonho de um está bem distante do sonho do outro. Enquanto Sol quer a todo custo viver fora do Brasil, Tião deseja ardentemente enfrentar e vencer o touro Bandido nas arenas de rodeio, um dos bichos mais perigosos, que nenhum peão jamais ousou montar. O casal vive sua paixão o quanto podem, mas não abrindo mão de sua ida para os Estados Unidos, Sol se separa de Tião. Ela vai, ele fica, e a trama segue com as aventuras e desventuras dela tentando a vida em Miami e dele tentando encarar o touro Bandido, no interior do Brasil.

Tião e Sol



A travessia de Sol não é nada fácil. Pelas mãos do bandido Alex (Thiago Lacerda), que organiza a viagem, e do atravessador Ramiro (Luís Melo), a mocinha come o pão que o diabo amassou, até ser encontrada escondida dentro de um porta-luvas no meio do deserto mexicano pela polícia, e enviada de volta ao Brasil sem ao menos pisar nos EUA. Mas Sol não desiste, e numa segunda tentativa entra no país dentro da caixa de uma televisão, que tinha sido comprada pelo intelectual Edward Talbot (Caco Ciocler). O encontro do americano Eddie com a brasileira Sol não poderia ser mais inusitado, e a cena em que ela pula da caixa logo depois dele abri-la, no meio de sua sala, é uma das mais marcantes da novela.


Já em Boiadeiros, onde vive Tião, que se prepara para um dia vencer o touro Bandido e ganhar dinheiro suficiente para tirar sua família, composta pela mãe Mazé (Nívea Maria) e o avô Zé Higino (Francisco Cuoco), da pobreza, tem de enfrentar o ambicioso irmão Geninho (Marcello Novaes), que deseja vender as terras da família para o fazendeiro Laerte (Humberto Martins). Tião pretende tornar suas terras prósperas como sonhava seu pai Acácio (Chico Diaz), que morreu tentando garimpar pedras preciosas, quando o filho era ainda menino. Dessa forma os irmãos vivem em atrito, e Geninho se mostra cada vez mais sem escrúpulos em sua ganância. Tião acaba criando certa inimizade também com Laerte, marido da compradora compulsiva Irene (Daniela Escobar), pai de Kerry (Marisol Ribeiro) e tio de Simone (Gabriela Duarte), por quem Tião acaba se envolvendo ao decepcionar-se com Sol e pôr um fim no namoro dos dois.

Eddie e Sol, Tião e Simone

Sol e Tião passam por muitos encontros e desencontros, mas a paixão não resiste a sonhos tão diferentes. A distância nos momentos mais difíceis e importantes da vida de ambos, acaba por afastá-los cada vez mais. Enquanto Sol batalha em Miami, trabalhando em todas as atividades possíveis, de faxineira a dançarina de boate, e passando pelos maiores perrengues, tendo que enfrentar as maldades de miss May (Camila Morgado), namorada de Eddie, que morre de ciúme dela e quer vê-la deportada dos Estados Unidos de qualquer jeito; Tião, finalmente enfrenta o touro Bandido e derrubado por ele fica entre a vida e a morte, passando por uma EQM (experiência de quase morte), onde vê e conversa com sua santa protetora, Nossa Senhora Aparecida (Taís Araújo).

Sol e Cidinha


Tião de frente para o touro Bandido


Tião e Sol não terminam a novela juntos. Ele fica com Simone, feliz em Boiadeiros. Ela é deportada, mas grávida de Eddie e apaixonada pelo americano, casa-se com ele, que vai ao Brasil para levá-la de volta a tão sonhada América, onde formam uma família feliz.


América tinha dezenas de personagens e diversos outros núcleos que chamou atenção e despertou a torcida do público. Como de costume, Glória Perez abordou vários temas sociais, entre eles, o mundo dos deficientes visuais através dos personagens Jatobá (Marcos Frota), um cego completamente independente, e Maria Flor (Bruna Marquezine), uma criança superprotegida pela mãe, sedenta por independência. O encontro e a amizade entre essas personagens era bonito de se ver. Jatobá mostrou a Islene (Paula Burlamaqui), mãe de Maria Flor, que sua filha não era incapaz, e apresentou a menina um mundo novo, fazendo-a conquistar a independência dentro de sua limitação. Jatobá também vivia um romance com Vera (Totia Meirelles), que não era cega.

Jatobá e Flor

Vera era mãe de Radar (Duda Nagle) e Lurdinha (Cléo Pires), uma ninfeta, que seduzia Glauco (Edson Celulari), pai de sua amiga Raíssa (Mariana Ximenes). O empresário, casado com a cleptomaníaca Haydée (Christiane Torloni), mantinha um caso extra-conjugal com sua advogada, Nina (Cissa Guimarães), mas encantado pela sensualidade jovem e matreira da amiga da filha, casa-se com ela no final, após enfrentar os problemas da esposa e se livrar da obcecada amante. Em meio a doença da mãe e o adultério de seu pai, Raíssa encontra uma válvula de escape nos bailes funk dos morros cariocas, ao ficar amiga de Rose (Cacau Mello), garota suburbana, que trabalha no armazém de Gomes (Walter Breda) e Graça (Regina Dourado), em Vila Isabel. A novela colocou o funk na boca do povo, Tati Quebra-Barraco bombava na época.

Raíssa e Lurdinha

Glauco e Lurdinha





Em Vila Isabel, também viviam Feitosa (Aílton Graça) e sua mãe Diva (Neuza Borges), que infernizava o namoro do filho com Islene, a quem detestava. Feitosa e Islene tinham uma química forte e formavam um casal carismático, mas Diva não sossegou enquanto não separou o casal, arrumando uma esposa "exemplar" para o filho, a falsa beata Creuza (Juliana Paes), que se fazia de religiosa puritana, sempre vestida com trajes longos até o pescoço, mas não passava de uma dissimulada, que seduzia todos os homens que cruzava seu caminho, e quando algum deles tentava desmascará-la, ela dizia ter sido atacada pelo individuo. Era divertido e ao mesmo tempo revoltante.

Islene, Feitosa e Diva


Feitosa e Creusa



Nos Estados Unidos, o núcleo cômico era a pensão de Consuelo (Cláudia Jimenez), mexicana que venceu nos EUA, mas deixou as filhas Rosário (Fernanda Paes Leme) e Inesita (Juliana Knust) no México. As moças atravessam a fronteira para encontrar a mãe, junto com Sol. Na pensão vivem e transitam também Mercedes (Rosi Campos), irmã de Consuelo, louca para arranjar um marido; Jota Abdala (Roberto Bonfim), motorista que apresenta a cidade para os turistas e gosta de Consuelo; Geraldito (Guilherme Karan), cantor que anima as noites na pensão; Concheta (Franciele Freduzeski), trabalha na pensão; e o casal Helô (Simone Spoladore) e Neto (Rodrigo Faro), com o filho Rick (Matheus Costa).

Sol, Inesita, Consuelo e Mercedes

Em Boiadeiros, a respeitada viúva Neuta (Eliane Giardini), vive rodeada pelas afilhadas Maria Elis (Sílvia Buarque), Detinha (Samara Felippo), Bebela (Kika Kalache) e Maria da Penha (Carolina Macieira), todas maria-breteiras, doidas para laçar um peão, mas suas investidas desesperadas nunca dão certo. Neuta tenta pôr ordem na casa e controlar o furor uterino das garotas, mas sua grande expectativa é pela chegada de Júnior, filho único, em quem deposita todas as fichas de ser um grande peão e fazendeiro. Júnior (Bruno Gaglisso), estuda na capital e seu grande sonho é ser um estilista famoso. Ao se deparar com os planos da mãe para si, decide esconder suas reais inclinações profissionais e sentimentais. Júnior é gay, mas até encontrar coragem para se assumir namora Kerry e depois se casa com Maria Elis. Enquanto o filho esconde quem realmente é para agradá-la, Neuta se rende a paixão pelo peão Dinho (Murilo Rosa), mas temendo ficar falada, mantém o romance clandestino. O casal conquistou o público, terminando felizes e assumidíssimos, assim como Júnior que encontrou o amor ao conhecer o peão Zeca (Erom Cordeiro), não sem antes contar toda a verdade sobre quem realmente era para a mãe, em um momento dramático e emocionante.

Marias-Breteiras









América tinha todos os elementos para ser um novelão, mas o elenco numeroso, o excesso de núcleos soltos e diversas falhas no roteiro não tornou-a memorável. A mistura de imigração ilegal com o mundo dos rodeios (o que levou os protagonistas a terminarem separados) mais cleptomania, baile funk, EQM, homossexualidade e deficiência visual, deixou tudo meio um samba do crioulo doido. Ainda assim, a novela obteve boa audiência e com uma caprichada edição pode valer muito a pena ver de novo, já que seus 203 capítulos criaram uma imensa barriga na história.

A trilha sonora de América, repetiu o lançamento de CD duplo assim como Mulheres Apaixonadas e Celebridade, sequência quebrada por Senhora do Destino, antecessora no horário, que lançou trilhas separadas. Mas diferentemente das trilhas de Manoel Carlos e Gilberto Braga, onde a Som Livre lançou o CD duplo e o Volume 2 com inéditas mesclando nacional e internacional. América, após lançar sua trilha dupla, desmembrou-a em mais dois CDs com as mesmas músicas do primeiro, somando-se assim 5 trilhas da trama: América Duplo, América Nacional, América Internacional, América Rodeio e América Berço do Samba. Foi lançada também uma trilha instrumental com as músicas de Marcus Vianna, tocadas na novela.







A Volta (Roberto Carlos), tema de Vera e Jatobá; Nervos de Aço (Leonardo), tema de Tião; Soy Loco Por Ti America (Ivete Sangalo), tema de abertura; Os Amantes (Daniel), tema de Neuta e Dinho; Você (Marina Elali), tema de Sol; Feitiço da Vila (Martinho da Vila), tema de locação de Vila Isabel; Pra Rua Me Levar (Ana Carolina), tema de Júnior; She's a Carioca (Ela é Carioca) (Celso Fonseca), tema de Lurdinha; Regressa a Mí (Un Break My Heart) (Il Divo), tema de Mariana e Helinho; Don't (Shania Twain), tema de Sol e Home (Michael Buble), tema de Eddie, foram alguns destaques das trilhas nacional e internacional.


Curiosidades:

- A primeira atriz desejada por Glória Perez para viver a protagonista Sol foi Cláudia Abreu, ela viria do grande sucesso como a vilã Laura de Celebridade, e seria interessante vê-la na pele da sofredora e lacrimosa mocinha de América, mas a triz preferiu descansar a imagem após seu marcante papel na novela de Gilberto Braga, e voltou só na sucessora da trama de Glória, como a mocinha Vitória, em Belíssima. Optou-se então por Deborah Secco, que tinha se destacado bastante como a tresloucada Darlene na mesma novela de Gilberto Braga.

- Problemas nos bastidores dominaram esse trabalho de Glória Perez, o maior deles, talvez tenha sido o desentendimento entre a autora e o diretor geral e de núcleo Jayme Monjardim, que fez com que este se desligasse da novela. Em seu lugar ficou Marcos Schechtman. O motivo alegado para os desentendimentos entre Glória e Jayme, era o de que o diretor estava imprimindo um tom pesado e melancólico demais a trama, quando na verdade, a autora desejava ver no ar uma novela mais solar e alegre. Esse tom melancólico já se percebia na abertura, embalada pela canção Órfãos do Paraíso de Milton Nascimento. Com a saída de Monjardim no dia 12/04/2005, lá pelo capítulo 25 e com 38 já gravados sob a sua batuta, a novela mudou de abertura e tema, tornando-se mais festivo com a voz de Ivete Sangalo entoando Soy Loco Por Ti América. Apesar do sucesso de O Clone, onde tiveram uma parceria perfeita, depois dessa rusga, Glória Perez e Jayme Monjardim nunca mais trabalharam juntos.





- O último capítulo de América alcançou picos de audiência pelo tão aguardado primeiro beijo gay entre Júnior e Zeca. O beijo chegou a ser gravado pelos atores e alardeado pela mídia especializada, mas os telespectadores levaram um banho de água com a não exibição da cena, vetada na última hora pela Globo.

- Além dos temas já citados, a autora também abordou em sua trama o perigo da pedofilia na internet. Através do personagem Rick, um menino de 8 anos que conhece um amigo virtual de 11 anos, que na verdade é um adulto de 58.

- As cenas em que Sol sai da caixa depois de chegar encaixotada na casa de Eddie e a que Mariano se emociona ao ter que demolir a casa de Odaléia e desiste de fazê-lo, foram inspiradas em acontecimentos verdadeiros.

- Bruna Marquezine e Marcos Frota fizeram laboratório no Instituto Benjamin Constant para compor seus personagens com deficiência visual, e Deborah Secco teve que passar-se por garçonete de uma rede de fast-food, sem que ninguém soubesse que ela era atriz, nos Estados Unidos. A atriz trabalhou em uma filial do Mc Donald's, em Nova York e chegou a ser destratada pelos superiores por não dominar o idioma.

- Houve até caso de polícia. Uma camareira acusou a atriz Lucy Mafra (que vivia a personagem Claudete, vizinha de Islene que cuidava de Flor, quando ela precisava se ausentar), de furtar $300,00 da bolsa de Christiane Torloni. A história nunca foi provada, mas Lucy foi demitida da Globo, após 25 anos de serviços prestados, nunca mais conseguiu trabalho e morreu em 2014, aos 60 anos, com depressão.

- Antes mesmo da novela estrear, Glória Perez foi atacada nas redes sociais da época, por pessoas que se diziam "protetora dos animais" e estavam insatisfeitas e indignadas com a forma que seria abordado o tema rodeio na trama. Detalhe: ANTES da novela estrear. Haters sendo heters desde 2005.

- A atriz Cacau Mello entrou na novela para viver a funkeira Rose, após ganhar um concurso no programa Caldeirão do Huck. Ela desbancou Luana Carvalho, filha de Beth Carvalho, que também acabou fazendo uma participação na trama.

- Foi a primeira novela dos atores Lucas Babin, Antonio Carlos (Mussunzinho), Camila Rodrigues, Cléo Pires, Cris Viana e Camila Morgado.

- Última novela de Regina Dourado na Globo.

- Com o sucesso da novela, duas atrizes do elenco surpreenderam ao posar nuas para uma revista masculina. Cissa Guimarães fez seu segundo ensaio sensual aos 48 anos, e surpreendeu com um corpo incrível, e Marisol Ribeiro, após sua doce Kerry, exibiu seu corpo esquálido de ninfeta, nas páginas da revista Sexy. A chamada de ambas as capas fazia menção a novela. 
                
Edição Novembro/2005

Edição Dezembro/2005

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