Há 14 Anos Estreava a Minissérie UM SÓ CORAÇÃO #35
Em 2004, a Rede Globo levou ao ar uma super produção, em comemoração aos 450 anos da cidade
de São Paulo, a minissérie em 54 capítulos, Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira. Estreou no dia 6 de Janeiro daquele ano, completando hoje 14 anos de seu primeiro capítulo. Os autores escreveram junto com Lúcio Manfredi e colaboração de Rodrigo Amaral, sob direção de Marcelo Travesso, Ulisses Cruz e Gustavo Fernandez, direção geral de Carlos Araújo e núcleo de Carlos Manga.
os autores: Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira |
Um Só Coração se passa entre 1922 e 1954, período em que São Paulo se torna um grande centro econômico e cultural do país. A semana de Arte Moderna, em 1922, a Revolução de 1924, a crise de 1929, a Revolução de 1932, a Era Vargas, os ecos do nazismo e do fascismo: esse é o contexto histórico da narrativa. Personagens reais e fictícios vivem histórias de amor, amizade, luta e conquista.
A personagem central da história é a jovem Yolanda Penteado (Ana Paula Arósio), de família tradicional da sociedade paulista, dominada pela conservadora elite do café, ela é uma mulher bela, corajosa e inteligente, admiradora das artes.
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Yolanda Penteado |
Yolanda desperta paixão por onde passa, mas não se envolve facilmente com nenhum pretendente até conhecer o estudante de medicina Martim (Erik Marmo). A jovem se encanta pelo tímido rapaz, mas sua mãe, Guiomar (Cássia Kiss), não aprova o envolvimento da filha com um simpatizante do movimento anarquista. Mesmo com a oposição de Guiomar, que deseja ver a filha casada com o primo Fernão (Herson Capri), Yolanda e Martim iniciam um romance.
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Yolanda e Martim |
Um dia, Fernão aparece em sua casa depois de uma temporada viajando pela Europa. Ele diz a prima que veio para ficar e pede sua mão em casamento. Yolanda planeja fugir com Martim, mas, por desencontros, ele acaba partindo sozinho, acreditando que ela desistiu de ir para o Rio de Janeiro com ele. Decepcionada, Yolanda decide se casar com Fernão. Apesar de amar Martim, ela faz tudo para ser feliz ao lado marido.
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Fernão e Yolanda |
No decorrer da trama, Yolanda descobre que é traída por Fernão com sua melhor amiga, Elisa (Fernanda Paes Leme), e pede o desquite, chocando a sociedade paulista. Yolanda decide procurar Martim, a quem não esqueceu, mas descobre que ele está casado com Gilda (Paula Hunter).
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Elisa |
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Martim e Gilda |
Além dos desencontros amorosos, Yolanda passa a enfrentar dificuldades financeiras, provocadas pela queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929. Para tentar ajudar sua família a sair da crise, ela procura Francisco Matarazzo Sobrinho (Edson Celulari), o Ciccillo, homem culto e poderoso, pertencente a família proprietária do maior parque industrial de São Paulo. Ciccillo, como é conhecido, se apaixona por Yolanda, e os dois acabam se envolvendo. Ela também fica fascinado pelo charme de Ciccillo. Ousados e amantes das artes, Yolanda e Ciccillo descobrem ter inúmeras afinidades. Ela revela sua paixão por Martim, e ele, o caso que mantem com a espanhola Soledad (Daniela Escobar), uma mulher solitária que vem ao Brasil com uma companhia de dança e se apaixona por Ciccillo. A relação de Yolanda e Ciccillo é baseada na franqueza e admiração que sentem um pelo outro.
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Ciccillo Matazzo e Yolanda |
A minissérie contava ainda com o núcleo familiar dos Souza Borba, através da qual era retratada as transformações da vida social e econômica de São Paulo entre os anos 1920 a 1950. O coronel Totonho Souza Borba (Tarcísio Meira), viúvo, proprietário rural pertencente à elite cafeeira paulista, criou os cinco filhos sozinho: Rodolfo (Marcello Antony), Bernardo (Daniel de Oliveira), Maria Luísa (Letícia Sabatella), João Cândido (Igos Adamovitch / Max Fercondini) e Maria Laura (Julia Feldens). Totonho é um homem de ideias conservadoras, muito preconceituoso e rígido. A relação com os filhos torna-se insustentável quando Bernardo demonstra simpatia pelo movimento anarquista e Maria Luísa se apaixona por Madiano Mattei (Ângelo Antonio), um pintor pobre. Totonho mantém uma boa relação apenas com o filho mais velho, Rodolfo, um mau-caráter.
Outra personagem importante na história é Ana Schmidt (Maria Fernanda Cândido), jovem humilde, filha do anarquista, Ernesto (Celso Frateschi) e de Frida (Lu Grimaldi). Para complementar a renda e ajudar nas despesas da família, Ana também trabalha como modelo vivo. Ao ver seu pai ser preso durante uma manifestação, Ana pede ajuda ao poderoso Totonho para tirá-lo da prisão. Ele aceita ajudá-la caso a moça trabalhe em sua casa como governanta. Para saldar a dívida com a família Souza Borba, ela aceita. A real intenção do coronel é que a bela jovem seduza seu filho, Bernardo. No entanto, ela passa a ser assediada por Rodolfo, a quem rejeita. Ela é apaixonada pelo padeiro Joaquim (Renato Scarpin).
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Joaquim e Ana |
A crise mundial gerada pela quebra da bolsa de Nova Iorque também atinge os negócios de Totonho. O coronel acaba perdendo seus bens e, sem condições de superar os problemas financeiros, se suicida. Os filhos herdam apenas a casa onde moravam, nos Campos Elíseos, que fica sob responsabilidade de Rodolfo. A casa se transforma em um bordel, comandado por Madame Claire (Ariclê Perez).
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Rodolfo |
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Madame Claire |
Anos depois, o local vira uma pensão, que vai abrigar outros personagens importantes da história: Lídia (Helena Ranaldi), sua filha, Rachel (Débora Falabella) e seu sogro Samuel (Sergio Viotti), entre outros. Perseguida por ser judia, Lídia deixa Berlim durante a Segunda Guerra Mundial, quando sabe da morte de seu marido David (Carlos Vereza). Porém, a notícia de que ficara viúva era falsa e, sem saber, Lídia constrói uma nova vida no Brasil. Através desse núcleo, os autores abordaram o drama dos judeus que deixaram suas terras de origem fugindo da perseguição nazista.
No final dos anos 1940, a pensão se transforma em um cortiço dos nordestinos que trabalham nas construções de São Paulo. Nesse período, a cidade sofreu um intenso processo de urbanização. Em tramas paralelas, a minissérie narra a história de imigrantes que foram para São Paulo, representados, por exemplo, pelos portugueses Avelino (Paulo Goulart) e sua família; pelos japoneses da família Fujihara; e pelos libaneses Samir (Leopoldo Pacheco) e sua mãe, Sálua (Ana Lúcia Torre).
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Samir |
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Sálua |
Em dado momento da trama, o generoso Samir se envolve com Maria Luísa. Após muito sofrimento, lutando para viver seu amor com Madiano, ele recebe uma proposta de trabalho na Europa, vendo nessa uma oportunidade de ter seu talento como artista plástico reconhecido, o pintor parte deixando Maria Luísa grávida, sem saber que a amada espera um filho seu. Sem saber o que fazer grávida e sem Madiano, Maria Luísa entrega sua filha para adoção assim que a criança nasce. Logo depois, ela conhece Samir, com quem se casa contra a vontade da mãe dele, que não confia na nora. A intuição de Sálua tem certa razão de ser, pois Maria Luísa esconde do marido que teve uma filha com outro homem. Bom e compreensivo, Samir decide procurar a filha de sua esposa assim que ela lhe conta a verdade. A menina foi adotada por Yolanda, que fica feliz ao saber que cuidou da filha de Maria Luísa durante todo o tempo que ela esteve longe da mãe, e a devolve de bom grado. Madiano volta ao Brasil como um artista bem sucedido, mas Maria Luísa termina feliz ao lado de seu amoroso marido.
Todas as tramas de Um Só Coração são desenvolvidas sob o ponto de vista cultural, procurando mostrar como os movimentos artísticos tiveram papel decisivo no desenvolvimento da cidade de São Paulo. Dessa forma a minissérie retrata juntamente com personagens fictícios a vida de artistas como Anita Malfatti (Betty Gofman), Oswald de Andrade (José Rubens Chachá), Mário de Andrade (Pascoal da Conceição), Menotti Del Picchia (Ranieri Gonzales) e Tarsila do Amaral (Eliane Giardini), que difundiam o ideal modernista. No primeiro capítulo da minissérie, Mário e Oswald planejam a Semana de Arte Moderna, que escandalizou a sociedade paulista da época . Entre os ferrenhos críticos àqueles artistas, estava Monteiro Lobato. A Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, foi alvo de aplausos, mas também de vaias e muita polêmica. Toda essa repercussão é retratada pela minissérie, que ainda revela aspectos da vida pessoal dos artistas envolvidos no movimento.
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Tarsila e Oswald |
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Anita Malfatti |
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Mário de Andrade |
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Pagu (Patrícia Galvão) |
O romance de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade também é retratado na história. O casamento dos dois teve forte influência na criatividade de Tarsila. Além disso, no período em que estiveram juntos, foram produzidos o Manifesto da Poesia Pau Brasil e o Manifesto Antropofágico. Mas Oswald decide se separar de Tarsila quando conhece Pagu (Miriam Freeland), uma jovem que causa frisson entre os modernistas devido a personalidade avançada para a época. Sempre com um forte batom vermelho nos lábios e fumando em público, Pagu encanta Oswald de Andrade e tem um filho com ele, Rudá. Tarsila, por sua vez, após sofrer com o baque da traição, se apaixona por Luís Martins (Marcos Winter). Os dois vivem um romance até que ele conhece outra mulher e Tarsila é abandonada novamente.
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Oswald e Pagu |
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Tarsila do Amaral |
Outros personagens importantes na trama são Juvenal (Cássio Gabus Mendes), Jayme (Cláudio Fontana) e Guiomarita (Gabriela Hess), irmãos de Yolanda; Santos Dumont (Cássio Scapin) e Assis Chateubriand (Antônio Calloni), ambos admiradores de Yolanda. Chatô, como era conhecido, tornou-se grande amigo dela e foi um dos grandes colaboradores no projeto da Bienal de São Paulo e do MASP.
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Jayme e Elisa |
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Yolanda e Guiomarita |
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Santos Dumont |
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Yolanda e Chatô |
Ao final da minissérie, Yolanda e Ciccillo decidem se separar, após muitos anos de uma relação de carinho e companheirismo. Eles organizam uma grande festa para comunicar a decisão. O casal deixou grande legado cultural para a cidade e ficou conhecido como os mecenas dos modernistas. Foram responsáveis pela Fundação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), em 1948, e organizaram, em 1951, a Bienal de São Paulo, entre outros empreendimentos. Graças aos bons contatos internacionais, Yolanda e Ciccillo conseguiram trazer para a II Bienal de São Paulo, entre outras grandes obras, a tela Guernica, de Pablo Picasso. No último capítulo, quando São Paulo festeja seus 400 anos, Yolanda e Ciccillo se emocionam diante da obra do pintor espanhol.
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Yolanda, Ciccillo e Camila Matarazzo |
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Soledad |
Após a grande festa, Yolanda vai ao encontro de Martim, seu grande amor. Antes de deixar a recepção, ela diz para Ciccillo se casar com sua espanhola, Soledad. A história se encerra com o apaixonado reencontro de Martim e Yolanda.
Na trilha sonora de Um Só Coração, o instrumental de Roger Henri domina quase todo o repertório com Too Young (tema de Yolanda); Família Alemã (tema de Ana); Um Só Coração (tema de abertura); Coração Sozinho (tema de Madiano e Maria Luísa), e Os Rios que Correm pro Mar (Teresa Cristina); Tum Balalaika (Gilbert), tema do núcleo judeu; Rapaziada do Brás (Jair Rodrigues); In The Blue Of The Evening (Frank Sinatra e Tommy Dorsey), tema de Candinho e Rita; Ária Paulistana (Isabela Tavaiani), tema de Martim e Yolanda, entre outros.
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Trilha sonora |
Curiosidades
- A Rede Globo, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria de Estado da Cultura e o Memorial do Imigrante, lançou o Circuito Cultural "Um Só Coração", no Memorial do Imigrante, em São Paulo. Entre 7 de dezembro de 2003 e 30 de abril de 2004, o público pôde ver a exposição de fotografias e de objetos de diversos povos imigrantes que foram retratados pela minissérie. O circuito contou ainda, com apresentações de danças típicas e festival gastronômico.
- O capítulo de estreia foi especial, tendo o dobro do tempo normal de duração.
- A atriz Gabriela Hess, que interpretava Guiomarita Penteado, é bisneta de Yolanda Penteado na vida real. Em determinado momento da história, a personagem de Gabriela dá à luz Antonieta Penteado da Silva Prado Cintra, sua tia-avó.
- Fernanda Torres e Fernanda Montenegro fizeram uma participação especial no último capítulo. Em cena, Fernanda Montenegro apresentava o cineasta Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, para a filha. Cleyde Yáconis e Eva Wilma também participaram do último capítulo da história, como elas mesmas. As atrizes de fato estavam entre os convidados da festa de Yolanda e Ciccillo Matarazzo.
- A data de estreia de Um Só Coração, 6 de janeiro, coincide com o aniversário de Yolanda Penteado, que nasceu nesse mesmo dia. O diretor geral Carlos Manga também aniversariava em 06/01, da mesma forma que Cássia Kiss.
- A emissora gastou 10,5 de reais na produção de Um Só Coração. A caracterização física dos personagens reais foi impecável. Atores como Paschoal da Conceição e Cássio Scapin, que interpretaram Mário de Andrade e Santos Dumond, ficaram a cara dos originais.
- A minissérie teve cenas gravadas em São Paulo, Santos, Campinas, Bananal e Rio das Flores, no interior do Rio de Janeiro.
- Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira fizeram uma breve participação na minissérie. Eles estavam no meio dos figurantes que assistiam à abertura da Semana de Arte Moderna. A cena foi exibida no terceiro capítulo, em 08/01/2004.
- A escritora Zélia Gattai, viúva do escritor Jorge Amado, fez uma participação especial na minissérie. No capítulo exibido em 11/03/2004, o então jovem Jorge Amado é homenageado num jantar no qual participa a pintora Tarsila do Amaral. É Zélia quem levanta o brinde.
- A minissérie foi prorrogada por causa do sucesso no ibope. Prevista para terminar no dia 02/04/2004, foi esticada até o dia 08/04. Na primeira semana, a atração registrou média de 38 pontos na Grande São Paulo. Na segunda e na terceira, 31 - audiência no horário considerada excelente para os padrões da época.
- John Herbert, Vida Alves, Tônia Carrero e Paulo Autran também participaram do último capítulo vivendo eles mesmos.
- Os autores queriam um ator novato para viver Martim, mas Erik Marmo lutou pelo papel, foi muito bem nos testes e conquistou o personagem.
- Renata Sorrah e Luana Piovani foram as primeiras atrizes cogitadas para viverem as judias Lídia e Rachel, mãe e filha, que acabaram sendo vividas por Helena Ranaldi e Débora Falabella.
- Estreia na TV dos atores Leopoldo Pacheco e Nina Morena, filha da atriz Marília Pera.
- Um Só Coração foi lançada em DVD no mesmo ano de sua exibição, 2004, e reapresentada pelo canal VIVA, em 2013.
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