Nove Anos da Estreia de A FAVORITA #01
No dia 02 de junho de 2008, há nove anos, ia ao ar o primeiro capítulo de A Favorita, novela das 21 horas (que àquela época ainda era chamada de novela das oito), que segundo a crítica especializada revolucionou o gênero. A Favorita, primeira incursão do autor João Emanuel Carneiro no horário nobre, após os sucessos de Da Cor do Pecado (2004) e Cobras e Lagartos (2006), às 19 horas, foi mesmo uma novela inovadora. O autor subverteu a narrativa clássica dos folhetins e a teledramaturgia ganhou um novo clássico para sua galeria de novelões. Em comemoração a esse aniversário, o Lembra de Mim, traz hoje sua primeira memória teledramatúrgica.
Escrita por João Emanuel Carneiro com colaboração de Denise Bandeira, Fausto Galvão, Márcia Prates e Vincent Villari; direção de Gustavo Fernandez, Paulo Silvestrini, Pedro Vasconcelos, Roberto Naar, Roberto Vaz, Isabela Secchin e Marco Rodrigo, e direção geral e artística de Ricardo Waddington, A Favorita contava a história de Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), duas amigas que se tornaram rivais, devido a um crime cometido por uma delas. Ambas contam duas versões diferentes de uma mesma história.
Flora é presa, após ser condenada a 18 anos de detenção, mas jura inocência e promete buscar por justiça ao ganhar a liberdade, acusando Donatela pelo assassinato do marido Marcelo Fontini (Flávio Tolezani), que tinha sido seu amante. Donatela, por sua vez, apavorada com a soltura de Flora, reafirma que ela precisa continuar na cadeia, pois é uma assassina perigosa, e sua luta será para mantê-la longe de Lara (Mariana Ximenes), filha biológica que Flora teve com Marcelo, mas que foi criada por ela com todo o amor.
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Marcelo Fontini |
Antes do crime porém, Flora e Donatela eram amigas de infância, crescendo juntas, após Donatela perder os pais e ser adotada pela família de Flora. Na adolescência, com a ajuda de Silveirinha (Ary Fontoura), uma espécie de padrinho das duas, formaram a dupla sertaneja, Faísca e Espoleta. Como cantoras fizeram relativo sucesso na época, com a regravação da clássica sertaneja de raiz, Beijinho Doce. Mas a carreira foi interrompida após conhecerem os amigos Marcelo e Dodi (Murilo Benício).
Flora e Donatela envolvem-se com os amigos e acabam se casando. Donatela com o herdeiro de uma indústria de papel e celulose, filho do poderoso Gonçalo Fontini (Mauro Mendonça), Marcelo. E Flora, com Eduardo Gentil, o Dodi, funcionário na firma do pai do amigo.
Donatela e Marcelo tornam-se pais de Mateus, que é sequestrado aos seis meses de vida, e nunca mais é encontrado. A situação deteriora o casamento dos dois, fazendo Marcelo envolver-se com Flora, a essa altura já separada de Dodi. Flora engravida de Lara, o que põe uma pá de cal no relacionamento das amigas, e afunda ainda mais o casamento de Donatela com Marcelo.
Em dado momento, Marcelo é assassinado com três tiros, disparado por uma arma que segundo testemunhas estava nas mãos de Flora. Presa e separada de Lara, então com três anos, Flora promete provar sua inocência. A novela então começa, com a loira saindo da prisão após cumprir sua pena, e durante os 56 capítulos seguintes não sabemos quem é a verdadeira culpada pela morte de Marcelo. Quem está dizendo a verdade? Flora, que já cumpriu sua pena e sempre jurou inocência? Ou Donatela, que foi traída pela melhor amiga, mas criou a filha dela como se fosse sua? Quem está mentindo?
Foi só no capítulo que foi ao ar em 05 de agosto de 2008, uma terça-feira, que foi revelada Flora como, não só a assassina de Marcelo, mas a grande vilã psicopata de toda a história. O público ficou estarrecido, pois todo mundo acreditava que Donatela era a megera da trama, e a grande maioria já torcia por Flora como a mocinha injustiçada.
Surpreendidos de uma forma nunca antes vista, o público torceu um pouco o nariz, a princípio, mas em pouco tempo, com as vilanias diabólicas de Flora, vivida por uma inspirada Patrícia Pillar, e a luta de Donatela, agora fugitiva da polícia, devido as armações da vilã, e já no posto de verdadeira mocinha sofredora, a novela que iniciou com audiência aquém do esperado, reagiu no ibope e virou um hit. A Favorita era viciante.
João Emanuel Carneiro conquistou uma legião de fãs com um plot twist inesperado e provou-se um talentoso roteirista digno de debutar no horário nobre, mas nem só de Flora e Donatela fez-se A Favorita, e apesar de acusado pela crítica de não saber escrever bem para seus núcleos coadjuvantes (o que eu concordo em partes), essa maravilha das oito, contou com núcleos cativantes.
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o autor João Emanuel Carneiro |
Foi o caso da família Copola, composta pelo patriarca vivido por Tarcísio Meira, sua esposa amargurada, Iolanda (Suzana Faini), as filhas Catarina (Lilia Cabral), Lorena (Gisele Fróes) e Cida (Cláudia Ohana), os genros Átila (Chico Diaz) e Leonardo (Jackson Antunes), e os netos Cassiano (Thiago Rodrigues), Mariana (Clarice Falcão) e Domênico (Eduardo Mello).
Copola é alegre e jovial, muito querido pelos vizinhos, abriu uma biblioteca na garagem de sua casa e promove saraus. Apesar da numerosa família e dos muitos problemas, procura mantê-la unida. Seu jeito expansivo e sonhador contrasta com a personalidade forte e controladora da esposa Iolanda, que morre de ciúmes do marido, o qual acredita ainda ser apaixonado por Irene (Glória Menezes), seu grande amor do passado, que é casada com Gonçalo. Quando Irene e Copola se reencontram depois de anos afastados, Iolanda passa a ter motivos reais para ter ciúmes e sentir-se ameaçada. Suzana Faini esteve fantástica na pele da esposa dedicada à família por anos a fio, que vê seu casamento ameaçado na velhice.
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Iolanda e Copola |
Outro destaque incontestável foi o núcleo de Catarina. Dentro de um casamento abusivo, a filha mais velha de Copola era esposa e mãe abnegada. Os filhos Mariana e Domênico a ignoravam, inconformados com sua submissão ao marido truculento, o violento Leonardo, que tratava a mulher como empregada. Para ele, Catarina servia apenas para lavar suas roupas e fazer a comida. Era revoltante as cenas em que ele humilhava a esposa em público, até mesmo ficando com outras mulheres em sua frente.
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Leonardo e Catarina |
Catarina demorou para se livrar de Léo, mesmo com o doce e tímido verdureiro Vanderlei (Alexandre Nero), apaixonado por ela. Apenas quando conhece Stela (Paula Burlamaqui), nova vizinha, que muda para sua rua, é que começa a se desprender do subjugo do marido desprezível. As duas travam uma bonita amizade e tornam-se sócias em um restaurante. De posse de sua independência financeira, Catarina finalmente se separa do marido e a amizade com Stela passa a ter novos contornos. Solitária, Stela se abre com Catarina e revela ser viúva de uma mulher que amou muito. Catarina nunca sentiu-se atraída por mulheres, mas a afetuosa amizade com Stela deixa subentendido que um romance pode acontecer. No final as duas terminam indo viajar juntas.
Toda a trajetória de Catarina foi encantadora e Lília Cabral esteve fascinante mais uma vez, pouco mais de um ano após viver a terrível Marta, de Páginas da Vida (2006). A dobradinha com Jackson Antunes, soberbo como o asqueroso Leonardo, outra vez deu liga, depois do casal apaixonado Goreti e Fred, em Anjo Mau (1997). E a delicadeza na abordagem da amizade entre Catarina e Stela coroou lindamente a história da personagem.
Cida Copola, a irmã mais nova, era caminhoneira e vivia na estrada. Apareceu na história muitos capítulos após sua estreia. Apesar de amável e querida por toda a família, tinha um certo conflito mal resolvido com a irmã do meio, Lorena, por ter vivido um romance com o marido dela no passado, seu cunhado Átila. Cida conhece Juca (Bento Ribeiro), homem mais jovem que ela, e os dois vivem um romance. Em determinado momento, movida por um instinto, talvez inconsciente, de revanche, Lorena tenta seduzir Juca. Mas as irmãs se amam acima de tudo e as coisas se resolvem da melhor maneira.
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Lorena e Cida |
Minha musa Cláudia Ohana, que na vida real é irmã do autor João Emanuel Carneiro (estranho e uma pena, que ambos só tenham trabalhado juntos uma vez), recebeu convite para posar nua enquanto estava no ar como a caminhoneira Cida, e 23 anos depois de fazer suas primeiras fotos sensuais, em fevereiro de 1985, ela estampava as principais páginas da revista Playboy, em novembro de 2008.
O Cassiano de Thiago Rodrigues, começava a história como funcionário na fábrica de Gonçalo, avô de sua namorada Lara, com quem formou um triângulo amoroso ao lado de Halley (Cauã Reymond). Mais tarde ao ser preterido pela mocinha, Cassiano se envolve com Alícia, patricinha rica e mimada, vivida por Taís Araújo, em uma participação de luxo, que enchia a tela com sua beleza, mas pouco acrescentava a trama.
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