Os 16 Anos da Estreia de AS FILHAS DA MÃE #11



Uma novela cheia de astros e estrelas da teledramaturgia brasileira, que prometia ser um acontecimento, mas infelizmente naufragou na missão de elevar e até mesmo manter os índices de sua antecessora no horário, As Filhas da Mãe, de Sílvio de Abreu, completa hoje, 16 anos de sua estreia, e mesmo tendo sido considerada um fracasso de audiência, por sua ousadia e inovação, foi um marco, e merece ser relembrada.

o diretor geral e de núcleo Jorge Fernando e o autor Sílvio de Abreu

As Filhas da Mãe estreou na faixa das 19 horas, no dia 27 de Agosto de 2001. Escrita pelo autor de sucessos do horário, nos anos 80, como Guerra dos Sexos, Cambalacho e Sassaricando, As Filhas da Mãe foi ao ar quando Sílvio de Abreu já estava consolidado no horário das 20, com tramas de sucesso nos anos 90, como Rainha da Sucata, A Próxima Vítima e Torre de Babel. Com este currículo respeitável, Sílvio não teve dificuldades em juntar um time estelar para fazer uma novela das 7 no início dos anos 2000. Uniu-se ao diretor Jorge Fernando, seu companheiro em vários trabalhos memoráveis, e criaram especialmente para o elenco selecionado a dedo, A Incrível Batalha das Filhas da Mãe nos Jardins do Éden, uma história tão megalômana quanto seu título provisório e casting.



Escrita juntamente com Alcides Nogueira e Bosco Brasil, com colaboração de Sandra Louzada, e direção de Marcelo Travesso e Marcus Alvisi, As Filhas da Mãe sucedeu Um Anjo Caiu do Céu e foi substituída por Desejos de Mulher, encerrando-se com 125 capítulos.

A novela foi definida por Sílvio de Abreu como um "cordel sulista-paulistano" chique, ao som de rap, e reuniu para contar a história de Lulu de Luxemburgo e suas três filhas tresloucadas, nomes do calibre de Fernanda Montenegro, Tony Ramos, Raul Cortez, Francisco Cuoco, Claudia Raia, Andrea Beltrão, Thiago Lacerda, Claudia Jimenez, Reynaldo Gianechinni, Claudia Ohana, Regina Casé, entre outros.



Lucinda Maria Barbosa (Fernanda Torres), conhece os amigos Fausto Cavalcante (Cláudio Lins) e Arthur Brandão (Henrique Taxman), nos anos 60. Ela se apaixona por Arthur, playboy e solteiro convicto, mas acaba se casando com Fausto, que lhe acena com a possibilidade de constituir uma família sólida, mas o que ele deseja realmente é ter a mulher que está apaixonada por seu amigo.

Após o casamento, Lucinda descobre o grande cafajeste que Fausto é, impedindo que ela desenvolva uma carreira profissional e forçando-a viver à sua sombra, fazendo-a cuidar em tempo integral dos três filhos do casal, Alessandra, Tatiana e Ramon. Mas Lucinda não se deixa dominar e enfrenta o marido ao conseguir um emprego no antiquário de um famoso decorador, provocando a fúria de Fausto.

Perseguida pela má sorte, Lucinda sofre assédio sexual do patrão e um dia ao ser atacada por ele, em legítima defesa, acaba matando-o. Fausto, que desenvolveu um ódio doentio por Lucinda não amá-lo, não pensa duas vezes em prejudicá-la, quando esta pede sua ajuda ao se ver envolvida em um crime. Fausto então, arquiteta um plano pérfido para ver a esposa pelas costas e fazê-la sofrer, obrigando-a a ir embora para sempre, deixando os filhos sob seus cuidados, a troco de não ser denunciada à polícia por ele. Sem saída, Lucinda cede a chantagem de Fausto e vai embora do Brasil sem que ninguém saiba. O empresário mau-caráter por sua vez, faz parecer que sua esposa morreu.

Nos dias atuais, Lucinda, agora Lulu de Luxemburgo (Fernanda Montenegro) é uma celebrada diretora de arte, internacionalmente conhecida, vivendo em Los Angeles e prestes a ganhar seu oitavo Oscar, e sempre acompanhada da fiel assistente Milagros (Patrícya Travassos). Mas apesar de toda a fama, luxo e riqueza que a cerca, Lulu nunca conseguiu ser completamente feliz e realizada longe dos três filhos. Disposta a reencontrá-los, ela contrata um detetive para descobrir o paradeiro de sua prole.

Lulu de Luxemburgo

Tatiana (Andrea Beltrão), Alessandra (Bete Coelho) e Ramon, foram expulsos de casa pelo pai, que adiantou-lhes a herança para livrar-se dos filhos. Os três sumiram no mundo, encontrando-se em lugares diferentes da Europa. Tatiana tentou ser diretora de cinema em Londres, mas fracassou ao conseguir ser apenas a pipoqueira do cinema. Alessandra deseja ser escritora em Roma, mas só consegue se concentrar em homens. E Ramon mudou-se para Paris, mas de seu paradeiro atual ninguém sabe.



Fausto (Francisco Cuoco) é sócio do amigo Arthur (Raul Cortez) e do cubano, dono de bingo, Manolo Gutierrez (Tony Ramos), em um resort de luxo, chamado Jardim do Éden, e tornou-se um homem solitário e ainda mais amargurado com o tempo, que vive em sua mansão rodeado pelos cuidados da governanta Margot (Jacqueline Laurence) e de conluio com o ambicioso e inescrupuloso afilhado Adriano (Thiago Lacerda). Fausto tem uma filha bastarda a quem deseja encontrar, e para isso conta com a ajuda do despachado sócio Manolo. Esta filha é Rosalva (Regina Casé), uma nordestina sem papas na língua, que mudou-se para São Paulo com o marido Edmilson (Edson Celulari) e os filhos. Ela sai de São Bernardo do Campo e vai morar numa rua onde sua nova residência fica de frente para a casa de Manolo, que arquiteta toda essa mudança junto com seu marido, para tentar aproximá-la de Fausto, mas uma fatalidade faz com que Edmilson sofra um acidente de carro, deixando Rosalva viúva e sozinha com os quatro filhos, Joana (Priscila Fantin), José (Bruno Garcia), Pedro (Pedro Garcia), Amada (Ana Beatriz Cisneiros) e o sogro Dedé (Elias Gleizer).



Enquanto enterra o marido, Rosalva nem sonha que Fausto depositou em uma conta que abriu em seu nome, uma fortuna de milhões de dólares. Logo em seguida, Fausto desaparece ao aplicar um golpe nos sócios Arthur e Manolo. Com o sumiço do empresário, as filhas Tatiana e Alessandra, que gastaram toda a parte da herança que receberam e estão falidas, voltam ao Brasil para disputar a presidência do Jardim do Éden, fortemente cobiçada por Adriano. As duas vivem como cão e gato e travam uma eterna disputa em tudo, até mesmo vestindo-se iguais. Essa disputa estende-se também ao mesmo homem, ambas passam a ter um caso com Adriano, interessado apenas em manipular as irmãs, de olho na presidência do resort. Mas surtadas mesmo elas ficam quando Ramon reaparece, agora como Ramona (Cláudia Raia), após uma cirurgia de redesignação de gênero.



Ramona é uma bem sucedida estilista que também quer reivindicar sua parte no Jardim do Éden. As três irmãs entram em pé de guerra. Ramona é acusada por Alessandra e Tatiana de impostora, e recusa-se a fazer o exame de DNA para provar o contrário. Nesse momento, Lulu decide que hora de voltar ao Brasil para cuidar e apaziguar os ânimos entre suas filhas. Aqui ela reencontra seu grande amor do passado, Arthur.

Alessandra, Ramona e Tatiana

Mas Arthur está enredado pelos encantos da jovem Valentine (Lavínia Vlasack), com quem pretende se casar, sem nem imaginar que ela e Adriano são amantes e preparam um golpe do baú pra cima dele. Valentine é filha de Violante (Yoná Magalhães) e irmã de Valdeck (Lulo Scroback), personal trainer do resort. Já Arthur, tem dois filhos, os belos Leonardo (Alexandre Borges) e Ricardo (Reynaldo Gianechinni), que atiçam os hormônios da divertida empregada Divina (Cristina Pereira).

Ricardo, Arthur e Leonardo

Ricardo é um modelo de sucesso, que está em todas as campanhas publicitárias do momento e é o alvo da paixão platônica de Dagmar (Claudia Jimenez), uma atriz desempregada que não consegue emplacar nenhum projeto. Acaba indo fazer stand up no bingo de Manolo, mas não faz muito sucesso com o público do local, porém, lá conhece Webster (Diogo Vilela), também um ator desempregado, que faz um bico como professor da semi-analfabeta Aurora (Cláudia Ohana), fogosa ex-striper e mulher de Manolo. Dessa amizade entre Dagmar e Webster, nasce a ideia de uma sitcom, que será produzida pelas filhas de Lulu, Tatiana e Alessandra, dirigida por Webster e estrelada por Dagmar, onde esta última terá a chance de conhecer e contracenar com seu príncipe Ricardo, escolhido para ser o protagonista-galã da história. O único detalhe é que para conseguir o papel na produção, Dagmar terá que fingir ser homem, pois seu personagem é masculino. Além de fingir ser homem, Dagmar não poderá dar pinta de apaixonada na frente de Ricardo, mas conquista sua amizade sincera.

Ricardo e Dagmar

Leonardo, o filho mais velho de Arthur é mulherengo e machista, mas ao conhecer Ramona, cai de amores. Ramona também apaixonada por Léo, fica dividida entre contar ou não que é transexual. Ao ser honesta com o homem que ama, deixa Leonardo desesperado, passando-a a rejeitá-la.

Ramona e Leonardo

Enquanto tudo isso acontece, Adriano aproxima-se de Rosalva cheio de terceiras intenções. Ao descobrir sobre o dinheiro depositado em nome da nordestina por Fausto, ele seduz Rosalva com intuito de levá-la ao altar. O apaixonado boxeador Nicolau (Tuca Andrada), primo do falecido Edmilson, tenta alertar a amada sobre o caráter de Adriano, mas ela já está enredada na lábia do gatíssimo canalha e ignora os alertas.



Algum tempo depois, Fausto reaparece e logo em seguida é misteriosamente assassinado. Com diversos desafetos, muitos são suspeitos. Mas quem matou Fausto Cavalcante? Revelada apenas no último capítulo, a assassina era Valentine, que golpeou o empresário por engano em um quarto escuro, achando ser Adriano.

Em As Filhas da Mãe, Sílvio de Abreu quis brincar com a questão do gênero, da inversão de papeis. Para isso criou várias histórias interessantes, começando pela transexualidade de Ramona, onde usou toda a exuberância de Claudia Raia e o fato dela ser muitas vezes taxada como travesti por sua estatura e glamour, para abordar de forma divertida o assunto. Com Webster e Dagmar também criou situações inversas. O primeiro, enquanto não encontrava uma boa oportunidade em sua área de atuação, cuidava dos filhos e da casa, sustentada pela esposa Maria Leopoldina (Virgínia Cavendish), secretária-executiva no Jardim do Éden. E Dagmar, era obrigada a travestir-se de homem para conseguir trabalhar como atriz. Tinha também a história de Joana e Diego (Mário Frias). Ela queria ser boxeadora, era boa de briga, e ele, apesar do pai fazer questão de vê-lo nos ringues de luta, detestava o esporte, mas era ótimo estilista e acabou indo trabalhar escondido de Manolo, no atelier de Ramona, desenhando alta-costura. Joana e Diego se apaixonam e formam um divertido casal que custa a se acertar.



As Filhas da Mãe foi uma novela incrível com a sempre competente assinatura de Sílvio de Abreu, que retornou ao gênero comédia rasgada, com todos os elementos que fizeram sucesso nos anos 1980 e o frescor de ser narrada através de raps, e foi aí nessa pequena inovação, que fez toda a diferença, que a audiência sambou. Os muitos personagens, histórias e situações costuradas com a maestria que só Sílvio tem, confundiu o público ao ser alinhavada com raps em forma de cordel. O que para alguns era uma novidade deliciosa, para a maioria ficou cansativo e chato, atrapalhando o andamento da história. Com o passar dos capítulos, os raps foram diminuindo. Por capítulo era levado ao ar de oito a dez raps, de 30 segundos. Do capítulo 30 em diante o raps diminuíram para três a quatro por dia, com duração de 20, 16 e 15 segundos cada. Mas essa mudança não trouxe a audiência de volta. Infelizmente o público não soube entender e apreciar uma obra tão trabalhosa e bem feita, com um elenco, até hoje, difícil de acreditar, que esteve reunido em uma novela das sete.

Pelo desanimador resultado dos números, a colorida, divertida e glamourosa As Filhas da Mãe, foi tristemente amputada. A novela prevista para ficar no ar entre agosto/2001 e abril/2002, foi encerrada em janeiro/2002, obrigando a novela seguinte a ser produzida a toque de caixa, para estrear 3 meses antes.

Dessa forma, até mesmo a trilha sonora da novela foi mal executada. Com hits e clássicos do cancioneiro brasileiro, a trilha nacional teve algumas canções internacionais inclusas em seu álbum. Os destaques foram: Ela é Bamba (Ana Carolina), tema de Rosalva; Acima do Sol (Skank), tema de Joana; Primavera (Maria Bethânia), tema de Lulu; São Paulo SP (Fernanda Abreu), tema geral; Orora Analfabeta (Exaltasamba), tema de Aurora; Odara (regravada por Lulo Scroback, intérprete do Valdeck), tema de Valdeck e o tema de abertura Alô Alô Brasil, entoada por Eduardo Dussek.

Trilha Nacional

Na trilha internacional poucas músicas marcantes também. A lembrança mais forte dessa trilha são duas regravações: Emotion, dos Bee Gees, lindamente interpretada pelas meninas do Destiny's Child, que serviu de tema para o romance nada promissor entre Ricardo e Valentine, e Eternal Flame, cover do The Bangles, feito por Atomic Kitten, que foi tema de Joana e Diego. Duas músicas nacionais também fizeram parte desse álbum: o forró Colo de Menina (Rastapé), para Rosalva e a versão de Rita Lee para If I Fell, dos Beatles, Pra Você Eu Digo Sim, tema de Lulu e Arthur.

Trilha Internacional


Curiosidades:

- Com seu elenco mega estrelado, Sílvio de Abreu comprou "briga" com alguns colegas, que tiveram dificuldades para escalar seus elencos em outros horários, especialmente Glória Perez, que viu reduzir bastante suas opções para O Clone, com os grandes nomes da emissora indo para a trama das 7. No resultado final, com bem menos medalhões em seu casting, Glória levou a melhor, com o estrondoso sucesso de sua obra.

- As Filhas da Mãe teve problemas com censura antes de ir ao ar. O Ministério da Justiça classificou a trama como imprópria para menores de 12 anos e inadequada para ir ao ar antes das 20 horas, a alegação era um suposto "desvirtuamento dos valores éticos". Tudo por causa da personagem Ramona, transexual vivida por Claudia Raia. A novela foi liberada para o horário a que se propunha, só depois do autor escrever uma carta explicando em detalhes como pretendia abordar o tema, de forma leve e descontraída, sem se aprofundar muito, e assim foi feito.

- Sílvio de Abreu primeiro escolheu seu elenco e só depois criou a história sob medida para cada ator.

- Reynaldo Gianechinni a princípio ficou apreensivo em fazer Ricardo Brandão. Não queria interpretar um modelo aspirante a ator, tal qual era visto na vida real, mas Sílvio o convenceu argumentando que só um bom ator faria bem um personagem tão parecido consigo mesmo.

- Walmor Chagas foi o primeiro nome cogitado para viver Fausto Cavalcante.

- Priscila Fantin e Mário Frias repetiam o par romântico de sucesso que fizeram em Malhação como Tati e Rodrigo. Foi a primeira novela de Priscila.

- Também foi a primeira novela de Bruno Gagliasso na Globo.

- Única novela de Lulo Scroback, que é também cantor e participou no ano de 2002 da segunda edição de Casa dos Artistas no SBT.

- Daniela Cicarelli fez uma participação especial como Larissa, modelo namoradinha de Ricardo no início da trama.

- Yoná Magalhães foi remanejada de A Padroeira, onde vivia a amargurada Úrsula, para fazer a divertida e interesseira Violante em As Filhas da Mãe. Sua personagem na trama de Walcyr Carrasco morreu pra que ela fizesse a novela das 7.       

- Foi usado em As Filhas da Mãe o mesmo divertido recurso utilizado em Guerra dos Sexos, dos atores falarem com a câmera em determinadas cenas, como se informassem ou questionassem o telespectador de algo.

As Filhas da Mãe foi uma novela absolutamente injustiçada, mas merece ser sempre lembrada, tornando-se cult.

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