Natália Lage Faz 39 Anos #22



Ela tinha só quatro anos quando fez seu primeiro comercial para a Caixa Econômica Federal, incentivada pelo pai. Depois disso passou a ser muito requisitada por anunciantes de refrigerantes a creme dental. A menina prodígio é Natália Lage Vianna Soares, nascida em Niterói, no dia 30 de Outubro de 1978, que aos nove anos passou a sair da escola direto para os estúdios da Rede Globo, onde gravava os episódios de seu primeiro trabalho em teledramaturgia, o seriado Tarcísio e Glória, em 1988, adotando como nome artístico apenas Natália Lage. Estreou muito bem apadrinhada por nada mais nada menos que Tarcísio Meira e Glória Menezes. Na série, Natália era a pequena Mariana, afilhada de Bruno Lazzarini (Tarcísio Meira).

Mariana e Ava, em Tarcísio e Glória

Em 1989, estreou nas novelas, em O Salvador da Pátria era Regina, filha de Ângela e João, personagens de Lucinha Lins e José Wilker. Fez Gente Fina, novela das 6, em 1990, era Tatá. Mas foi em 1992 que Natália chamou a atenção como a esperta adolescente Tuca, em Perigosas Peruas, novela das 7 de Carlos Lombardi. Foi nessa trama que me apaixonei pela atriz. Tuca era o pivô da disputa materna entre Leda (Sílvia Pfeiffer) e Cidinha (Vera Fischer), sendo filha biológica da primeira e criada pela segunda, a garota ficava dividida entre as duas, e arrasou no texto ágil e divertido de Lombardi.



Em 1993, teve um papel meio apagado em O Mapa da Mina, onde viveu Bia. Mas em 1994, na trama solar de Walther Negrão Tropicaliente, para o horário das 6, Natália se destacou como a riponga Adrenalina. E nesse mesmo ano, ao encenar a peça À Beira do Mar Aberto, baseada em contos do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, a atriz tornou-se uma das mais jovens musas do escritor.

Adrenalina

Amadurecendo em frente às câmeras, Natália Lage crescia a olhos vistos a cada novela, na metade da adolescência fez Kika, em Cara e Coroa, de Antônio Calmon, onde estampou a capa da trilha internacional da trama, uma das melhores e mais marcantes da década de 90. Aos 19 anos ganhou seu primeiro papel adulto, como a protagonista de O Amor Está No Ar, em 1997, novela das 18 horas de Alcides Nogueira, trama queridinha deste que vos escreve. Ela fazia Luíza, garota rebelde, atormentada por visões com extraterrestres, que disputava o amor do mesmo homem, Léo (Rodrigo Santoro), com a própria mãe, Sophia (Betty Lago).




Malhação também fez parte do currículo de Natália Lage, ela esteve na temporada de 1999/2000, vivendo Marina, irmã do Mocotó (André Marques). Participou de A Grande Família, como Júlia, uma das muitas namoradas de Tuco (Lúcio Mauro Filho), em 2002. No cinema foi Érica, uma das protagonistas do filme O Homem do Ano, ao lado de Murilo Benício e Cláudia Abreu, em 2003. Também participou da novela Da Cor do Pecado, em 2004, ela era Roxane e entrou no núcleo cômico da família Sardinha já na metade da trama. No teatro ficou em cartaz com a peça Esse Alguém Maravilhoso Que Eu Amei.

Marina e Marquinhos, em Malhação



Em 2005, ganhou outro papel de destaque na novela A Lua Me Disse, de Miguel Falabella, era a dúbia Beatriz, e disputava com a mocinha de Adriana Esteves, de quem era irmã bastarda sem saber, o amor de Gustavo (Wagner Moura). Também em 2005, foi lançado com grande sucesso nos cinemas Dois Filhos de Francisco, onde interpretou Cleide, uma das namoradas do cantor Luciano. E no teatro atuou em Orlando.



Em 2006, fez a secretária Cecília da novela Pé na Jaca, em nova parceria com Carlos Lombardi, mas num papel mais discreto. Encenou duas peças teatrais: Do Outro Lado da Tarde e Eu Nunca Disse Que Prestava. E participou de vários programas, como Sitcom.br, A Diarista, Retrato Falado e Linha Direta - Justiça em um de seus episódios mais marcantes, Os Crimes da Rua do Arvoredo, no qual encarnou Catharina Palse, uma mulher que junto com o marido, fazia e vendia linguiça feita de carne humana em seu açougue, uma história horripilante que aconteceu em Porto Alegre, no século XIX.



Voltou a atuar em A Grande Família, em 2007, dessa vez como Gina, de onde saiu para outro seriado, em 2012, Tapas e Beijos, no qual viveu a sensual stripper Lucilene. No cinema, esteve no melancólico Como Esquecer, de 2010, onde fez Liza, ao lado de Ana Paula Arósio e Murilo Rosa.

Lucilene

Liza entre Hugo e Júlia, no longa Como Esquecer



A presença de Natália na TV, após Tapas e Beijos, tem sido cada vez mais esporádica, sempre em pequenas participações, dessa forma participou recentemente das séries Segredos de Justiça, Questão de Família e Sob Pressão. Em 2016, pôde ser vista num papel fixo, na série do GNT, Tempero Secreto, fazendo Tita, uma chef de cozinha atrapalhada. No ano que vem, poderemos vê-la em Carcereiros, série da Globo protagonizada por Rodrigo Lombardi, já disponibilizada no Globo Play.

Tempero Secreto

Na TV Portuguesa RTP1, Natália Lage está no elenco da série cômica luso-brasileira País Irmão, que estreou no dia 11 de Setembro e conta com um número expressivo de atores brasileiros. Fica a torcida pra que volte a atuar em nossas novelas o mais breve possível e de preferência em um grande personagem. A menina que cresceu na TV, virou uma linda mulher, mas não perdeu a doçura e o encanto, e que fascinou um dos maiores escritores desse País, conquistando sua admiração, não merece menos que uma volta triunfal em grande estilo a nossa teledramaturgia.



Outros trabalhos e participações de Natália Lage:

TELEVISÃO

Você Decide (vários episódios em 1992, 1993 e 1998)
Mulher (1998)
A Padroeira (2001)
Kubanacan (2003)
Sob Nova Direção (2004)
Louco Por Elas (2012)
Revista do Cinema Brasileiro (apresentadora em 2013-2016)
Os Suburbanos (2016)

CINEMA

O Tesouro da Cidade Perdida (2004)
O Filme do Filme Roubado do Roubo da Loja de Filmes (2006)
Vendedores (2007)
Tomate Cereja (2012)
Vai Que Dá Certo (2013)
Um Homem Só (2016)
Vai Que Dá Certo 2 (2016)

TEATRO

Procura-se Um Amigo (1991)
Namoro (1992)
Os 7 Gatinhos (1993)
Bonitinha Mas Ordinária (1995)
Arthur Bispo de Rosário / A Via Sacra dos Contrários (1995)
Nó de Gravata (1996)
Pinóquio (2001)
Zastrozzi (2003)
Quando Se É Alguém (2009)
Comédia Russa (2010)
Trilhas Sonoras de Amor Perdidas (2011)
JT - Um Conto de Fadas Punk (2012)
Edukators (2013)
Jacqueline (2016)

VIDEOCLIPES

Columbia - Amanhã (2007)
Lucas Santtana - Pra Onde Irá Essa Noite? (2012)
Clara Valente - Pra Te Encontrar (2014)
Lulu Santos - Luíz Maurício (2014)
Paulo Carvalho - Segredo (2016)



Para finalizar essa homenagem, deixo abaixo a transcrição de uma declaração aberta de Caio Fernando Abreu à aniversariante do dia, onde o escritor expõe todo seu carinho e encantamento pela jovem atriz, que na época tinha apenas 16 anos:

Feliz em conhecê-la, Natália Lage!



Chama-se Natália, essa garota. Como heroína de romance russo ou uma tia-avó que nem conheci, famosa pela solidão (morreu solteirona), independência (vivia num hotel), aristocracia (odiava gentalha) e bom-gosto (costureira requintadíssima) e, curiosa, como a própria filha que não tive e sempre pensei chamar de Clara, Luz ou, justamente, Natália.

Tem 16 anos. Feitas as contas poderia ser minha neta, posto que sou 30 anos mais velho. Supondo que eu tivesse tido um filho aos 15, e esse filho tivesse tido um filho também aos 15 – esse último filho ou filha, neto ou neta, poderia ser Natália. Por escolha, não tive nenhum. Os dois possíveis, em comum acordo com as mães, foram abortados. Coisa de que me arrependo até hoje, ainda que não soubesse o que fazer a esta altura do safári com um rapaz ou moça de 19 anos e outro ou outra de 13.

Penso muito nesses filhos que não deixamos que vivessem. Rezo por eles, peço-lhes sempre um perdão, desesperançado, amargo, desconfiado de que o crime cometido será para sempre imperdoável. Mas como Deus, embora aja, arranja jeitos tortuosos de compensar, volta e meia cruzo com alguém que poderia ser um daqueles filhos.

Natália é desses. Pele branca de porcelana, cabelos lisos quase louros, silhueta barroca, parece uma inglesinha do século passado. Não é difícil imaginá-la envolta em rendas, com chapéu e luvas, um livro ou bordado nas mãos. Fala pouco, quase nada. Mas olha muito, o fundo. Séria, não fica jogando carinho fora (é de Escorpião), mas de vez em quando pega na sua mão ou te dá um abraço apertado sem avisar. Súbito e verdadeiro, o gesto de Natália nunca é social, estudado ou sedutor: toca em você respirando suave, sem nada pedir, sem carências. Como quem diz qualquer coisa tipo “que bom navegamos juntos”.

Até dez dias atrás eu só conhecia Natália da TV: ela foi a filha ao mesmo tempo de Vera Fischer e de Silvia Pfeiffer (e de Mário Gomes) numa telenovela cujo nome não lembro, depois a hiponga Adrenalina de Tropicaliente. Por amigos, certo dia soube que Natália gostava dos meus livros. Mas ela é tão jovem, pensei, e esses teens (argh!) não leem nada, pensei assim com preconceito burro.

Fim do ano passado me procurou Marta Lage, mãe de Natália, queria produzir um espetáculo teatral com meus contos. Natália, imaginem, não tinha coragem de falar comigo. Pura intuição do bem, autorizei na hora.


Juntaram-se ao elenco Candé Horácio (19), Suzana Pires (18), Henrique Farias (20) e Maurício Branco (25), todos eles filhos-não-tidos. Gilberto Gawronski começou a dirigi-los. Surgiu o título de um dos contos – À Beira do Mar Aberto, a ideia justa desse mar imenso da vida aos pés dos muito jovens, tão jovens que mal começaram a navegar. Terá sereia nesse mar?  E ilha e tubarão, terá? Piratas, tesouros, naufrágios, calmarias, tempestades, recifes, corais, escorbutos, banzo e nácar? Oh, Deus, tende piedade dos moços: só navegando em tuas águas pra descobrir tanto horror e maravilha.

Então vim ao Rio, e com uma equipe de 17 lindas pessoas fomos a Fortaleza estrear. Conheci Natália. Durante a viagem, enquanto os outros se agitavam excitados, ela leu todo O Marinheiro, de Fernando Pessoa num bar, a vi sair discretamente para caminhar de mãos dadas com um menino mendigo. De vez em quando, numa mesa cheia, baixa a cabeça e escreve, escreve, escreve. É uma atriz. Tão menina, e de vez em quando umas entonações sabidas de balzaquiana, ironias de diva, charme de gatinha. Estranha densidade. Aura, magnetismo: talento.



Voltei, eles ficaram. Vão a Natal, João Pessoa, Salvador, Ilhéus, depois o Sul. Eu trouxe Natália no meu coração assustado, feito flor rara. Desde que a conheci, aqueles filhos que não tive me doem bem menos. Que é da natureza da dor parar de doer, tenho aprendido.


*Crônica publicada no Caderno 2, do jornal O Estado de São Paulo, em 5 de Fevereiro de 1995


FELIZ ANIVERSÁRIO, NATÁLIA LAGE!


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