Há 23 Anos Estreava o Remake de SANGUE DO MEU SANGUE, no SBT #63



Em 1995, o SBT levou ao ar uma grande produção de época, era o remake de Sangue do Meu Sangue, original de Vicente Sesso, levada ao ar pela TV Excelsior, em 1969. Escrita pelo mesmo Vicente Sesso, acompanhado de Rita Buzzar, Paulo Figueiredo e colaboração de Ecila Pedroso, a novela do SBT estreou em 11 de Julho e contou com 257 capítulos. Foi antecedida por As Pupilas do Senhor Reitor e sucedida por Antônio Alves, Taxista, completando hoje 23 anos de estreia.

o autor Vicente Sesso

A trama narrava, na época do segundo reinado, algumas histórias fortes e apaixonantes, entre elas a da senhora Júlia Camargo (Lucélia Santos), casada com o cruel Clóvis Camargo (Osmar Prado), um senhor de escravos que oprime negros, aplica um golpe no banco de seu sogro, Mário (Rubens de Falco), e tenta enlouquecer a esposa para se apoderar da herança dela. Além disso, prepara uma armadilha fatal contra o único homem que pode desmascará-lo: Carlos (Jayme Periard), o contador do banco que roubou. Clóvis coloca explosivos em uma valise em que Carlos transporta dinheiro para outra agência, e o faz voar pelos ares. Após o acidente, Carlos perde a memória e esquece a mulher e os três filhos, que o julgam morto: a apaixonada e dedicada Helena (Lucinha Lins), o primogênito Lúcio (Tarcísio Filho), o sensível pianista Ricardo (Rubens Caribé), filho do meio, e a caçula Cíntia (Flávia Monteiro).

Júlia e Clóvis

Dez anos se passam, e Carlos juntou-se a trupe mambembe de Raposo (Cacá Rosset). Depois de uma década, ele recupera a memória e, sempre no anonimato, deflagra uma batalha para provar que Clóvis não somente tentou eliminá-lo como também é responsável por outros crimes e falcatruas. Paralelamente, Júlia continua sofrendo demais. Até porque seu marido já convenceu a quase todos de que ela perdeu o juízo. E, para mantê-la calada, Clóvis ameaça revelar que o filho deles, Maurício (Delano Avelar), não é legítimo e sim de criação.

Também a ex-amante de Carlos, a rica e sofisticada Pola Renon (Bia Seidl), ganha força na história, e de forma indireta, torna-se aliada de Júlia. Convicta de que Clóvis é o culpado pelo desaparecimento do homem por quem era apaixonada, ela se empenha em reunir provas para jogá-lo atrás das grades. De seu lado está Lúcio (Tarcísio Filho), o filho mais velho de Carlos, que lutará para que seja abolida a escravatura e, ainda, para descobrir a verdade em relação a seu pai. Sem saber que por trás de todo o passado está Pola, a mulher a quem ama e protetora de sua família.

Pola e Clóvis

Outras tramas e personagens marcantes foram: o amor proibido entre Cíntia, filha de Carlos e Maurício, filho de Clóvis, que sofriam com a proibição dos pais para que ficassem juntos; a relação de Ricardo e Fabrício (Bete Coelho), que na verdade era Fernanda, e se passava por homem para enfrentar a discriminação feminina. Disfarçada, forma-se em Direito, e com ideias abolicionistas, torna-se melhor amiga de Lúcio, mas apaixona-se pelo irmão dele, que nem imagina que Fabrício não é homem; Viviane (Cláudia Provedel), sobrinha de Pola, que não conheceu os pais, e estudou na Europa, bancada pela tia. Quando volta ao Brasil, apaixona-se por Lúcio, mas afasta-se dele para não magoar Pola; e a deficiente visual Natália (Denise Fraga), jovem doce, que faz parte da trupe de Raposo, aprende a ler em braile e passa a escrever poesia.

Natália e Raposo

Apesar da caprichada produção, Sangue do Meu Sangue não obteve os resultados satisfatórios de suas antecessoras Éramos Seis (1994) e As Pupilas do Senhor Reitor, tornando-se uma novela problemática.


Curiosidades:

- A emissora investiu pesado, a novela teve um orçamento superior as anteriores: US$ 42 mil por capítulo.

- Remake, na primeira versão Francisco Cuoco viveu papel duplo: Carlos e seu filho Lúcio - personagens de Jayme Periard e Tarcísio Filho na regravação.

- Uma das maiores publicidades para a novela foi a dupla Lucélia Santos e Rubens de Falco, reeditando a dupla de Escrava Isaura (1976) e vivendo novamente pai e filha como em Sinhá Moça (1986) 

- A atriz Vera Zimmermann gravou várias cenas como Viviane, sobrinha de Pola Renon, que disputaria com a tia o amor de Lúcio, aparecendo até nas chamadas de elenco, mas quando a personagem entrou em cena, no meio da trama, foi substituída pela atriz Cláudia Provedel sem maiores explicações.

- A novela contou com a assessoria histórica de Ana Luíza Martins Camargo de Oliveira, historiadora da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

- Na segunda fase, ambientada em 1883, ficaram mais evidentes e importantes para a trama os fatos históricos do período, como a militância de José do Patrocínio (Kadu Karneiro) e a trajetória da princesa Isabel (Irene Ravache).
Ela sabia que libertar os escravos significaria o fim do Império. É um drama pessoal que funciona bem para a novela”, afirmou a autora Rita Buzzar em entrevistas na véspera da estréia.
A novela de Vicente Sesso misturava ficção com reconstituições de fatos históricos do período monárquico e isso foi intensificado na adaptação de 1995.

- Entretanto, essa versão do SBT não repetiu o sucesso da produção original. Os adaptadores Paulo Figueiredo e Rita Buzzar mexeram na trama, acrescentando personagens desnecessários, com abuso de frases formais e empostadas até no cotidiano doméstico. Os diretores – entre eles Henrique Martins, intérprete do vilão Clóvis na versão de 1969 – se mostraram perdidos no meio dessa pretensa super produção. Arrastaram demasiadamente a trama no início e, do meio para o final, tentando dar agilidade ao texto, encheram a novela de cortes nervosos que produziam cenas sem sentido.

- O grande trunfo da produção foi Tarcísio Filho, intérprete de Lúcio. Com pinta de galã e depois de ter provado competência na emissora com o bem-sucedido Alfredo de Éramos Seis, a direção da novela usou tanto a imagem do personagem que ele chegou ao final desgastado.
Sobrou mesmo para o público torcer por Clóvis, o vilão sedutor, um dos melhores trabalhos de Osmar Prado na TV, que lhe rendeu o Troféu Imprensa de Melhor Ator de 1995.

- A crise provocada pela insatisfação da emissora com a baixa audiência, e do pai da obra, Vicente Sesso, com a adaptação, acabou provocando a intervenção dele na novela. Sesso chegou a ameaçar o SBT de que recorreria à Justiça para tirar a trama do ar caso a emissora não fosse fiel ao seu texto. Sua insatisfação começou já no primeiro capítulo. O autor reclamava da mudança de enfoque da história, dos dramas pessoais para a luta pela Abolição.
A briga com a autora Rita Buzzar acabou na imprensa: “A Rita Buzzar disse que eu era a Magadan, não trabalhava há muito tempo e estava querendo aparecer. A novela está sendo escrita fora de ordem, e eles estão tentando salvar a história na edição. A Pola Renon deveria ser interpretada por uma atriz mais velha, como Irene Ravache, para que a diferença de idade entre ela e Lúcio ficasse evidente”, reclamou Sesso.

- Rita Buzzar, antes de se desligar do texto da novela, rebateu as críticas de Sesso, declarando que foi necessário reescrever os capítulos, uniformizar perfis de personagens irregulares no original e corrigir erros históricos.

- Em sua intervenção, Sesso acabou eliminando a trupe dos atores saltimbancos, chefiada por Raposo (Cacá Rosset), diminuiu a participação da ceguinha Natália (Denise Fraga) e do tenente Paranhos (Paulo Figueiredo).
Outra personagem reformulada foi Fernanda/Fabrício (Bete Coelho), inexistente na trama original. “Essa personagem travestida de homem é ridícula e não engana ninguém”, disse Sesso.

- Ainda na tentativa de salvar a novela, Vicente Sesso acabou trazendo a amiga Tônia Carrero. Intérprete de Pola Renon na primeira versão, Tônia entrou para interpretar uma nova personagem, a viúva alegre Cécile Renon, e reforçar ainda mais a trama da cunhada, Pola (Bia Seidl). Tônia Carrero estava afastada da televisão há seis anos, desde sua participação em Kananga do Japão (1989), da TV Manchete.

- A abertura também foi alterada. A primeira teve um tom ufanista, com um hino cívico como tema musical. Fazia referência à Lei do Ventre Livre (de 1871) ao som do hino da Proclamação da República (de 1889). Uma escrava dá a luz a um menino, o pai retira o bebê liberto do ventre de sua mãe, rompe seus próprios grilhões e corre com a criança nos braços pelos campos de seu senhor. Ouvimos as estrofes do hino: “Liberdade, Liberdade, abre as asas sobre nós”.
A segunda abertura era mais “amena”, com cenas do elenco e da cidade cenográfica e outro acompanhamento musical, mais suave.

- Contudo, as mudanças feitas por Vicente Sesso em nada melhoraram a repercussão de Sangue do Meu Sangue. Ao contrário, os índices, que vinham se mantendo em torno dos 9 pontos, caíram para 5 a partir dos primeiros capítulos reescritos.

- Na reta final, o ator Osmar Prado decidiu romper o silêncio e saiu em defesa de Rita Buzzar e Paulo Figueiredo, atacando Sesso: “Ele não é milagreiro e está bancando o salvador da pátria. A emissora quer resultados e infelizmente caiu no conto que esse senhor irresponsável e inescrupuloso vem propagando na imprensa. Qualquer um pode ter críticas à novela e dizer que nem todos os personagens estão bem desenvolvidos. Mas não há problema que não seja contornável com uma boa conversa. Sesso simplesmente arrasou a produção, desde o início. Foi muito deselegante com atores e adaptadores. Se ele quisesse de fato cooperar, não agiria de forma tão leviana. Deixou claro que, na hora em que vendeu os direitos da história ao SBT, não soube negociar sua participação e depois saiu resmungando. Sangue é só um tijolinho em um muro maior, que é o núcleo de teledramaturgia do SBT. Sesso tentou derrubar esse muro desde o início. Então, não há como respeitá-lo agora.

- Já era tarde demais, os ânimos no elenco estavam inflamados, com vários atores insatisfeitos com os rumos de seus personagens e atrizes, como Bete Coelho e Lucélia Santos, reclamando da falta de diretores competentes para auxiliá-las. Para piorar, o SBT mudou constantemente o horário de exibição, perdendo a fidelidade do público.

*com informações do site Teledramaturgia




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